sexta-feira, 15 de abril de 2011

A arte de "flanelar"



Ontem fui a Opera Madame Butterfly. Na hora de me dirigir ao Teatro Rio Vermelho, ja me veio a memoria outros eventos neste mesmo local aos quais eu participei e lembrei-me na mesma hora de pegar um taxi ao inves de ir no meu carro pois estacionamento realmente nao e uma coisa facil de se encontrar por la. Lembrei das varias outras ocasioes em que tambem passei "apertada"com os tais flanelinhas (designacao brasileira para as pessoas que se oferecem para "vigiar" o seu automovel enquanto ele estiver estacionado num lugar especifico) e isso me lembrou uma historia...

Quando eu estava na Faculdade de Economia eu costumava ir pra PUC de carro. Eu estudava de manha e vez ou outra "pegava" alguma aula a noite. Eu sempre estacionava o carro em frente ao predio de uma amiga minha que morava perto da facul porque la havia uma arvore e eu detestava entrar no carro quando este estivesse quente por ter tomado sol durante muito tempo. Nao me importava de caminhar um pouco mais (2 quarteiroes) e saber que ao voltar, la pela hora do almoco, o carro estaria "fresco".

Um dia eu cheguei mais tarde e tive que estacionar em outro lugar. Procurei uma vaga e quando me preparava pra manobrar o carro surgiu um flanelinha sabe-se la de onde ja me olhando com aquela cara de "acaba de estacionar logo que quero te dar o golpe". Ja me senti meio constrangida de saber que seria coagida (porque isso com certeza e coacao) a pagar pra estacionar em um bem indivisivel do poder publico: a rua.

Sai do carro e ele ja veio me perguntar se ia ficar muito tempo. Quando comecou a falar, reparei que ele estava com uma prancheta na mao anotando alguma coisa. primeiro ele olhou no relogio e anotou o horario, depois olhou a placa do meu carro e depois perguntou o meu nome. Eu fiquei completamente boquiaberta pois o rapazinho falava comigo como se eu estivesse contratando o servico dele, e falando de uma forma super profissional. Pra me livrar logo dele (eu estava quase me atrasando para a aula) deu meu aval ao trabalho que ele iria desenvolver e fui-me embora.

Na hora do almoco (la pelas 12 h) eu voltei e o cara estava de: chapeu, oculos escuros, prancheta, caneta, uma garrafa d`agua na mao, celular (obviamente um bem vagabundo, pois na epoca os aparelhos era muito caros) e um colete escrito: SEGURANCA. Quase morri de rir. Ele veio a mim e disse que agora tudo ali era organizado pois estavam a fazer reunioes (os flanelinhas) e pensavam em montar uma assossiacao. "Pirei"... Ele perguntou que carro era o meu e eu apontei. Ele tinha colocado um papelao em cima para-brisa para proteger do sol e falou que eu tinha ficado tantas horas e tal... e que eu poderia sempre usar o servico dele que agora as coisas eram organizadas ali.

De repente ele me perguntou que curso eu fazia. eu disse: Economia. Entao ele me olhou com a cara de admiracao e disse: "Sera que da pra voce olhar essa planilha pra mim?"... Eu peguei a prancheta e me surpreendi... Na verdade, alem do controle de quem entrava e saia, fluxo de dinheiro etc... ele estava tambem fazendo a estatistica do servico pra poder ver se estavam tendo resultados. Eu realmente nunca tinha visto alguem tao empreendedor vigiando carro.

Ele foi me explicando que sempre frequentava as palestras gratuitas que ficava a saber que ocorriam na faculdade e que ate era amigo de um professor de economia que tinha dado umas dicas pra ele sobre como melhorar o negocio dele. Entao ele me pediu uma opiniao sincera sobre a planilha. A primeira vista estava bem elabora, mas eu disse que poderiam serem feitas algumas modificacoes e adcionar algumas entradas para novos dados... Comecei a me empolgar com a conversa e quando me vi estava ate sugerindo pesquisa de campo com clientes.

Bom, meu caro leitor, o climax da conversa ainda esta por vir, pois ate eu achei que o cara nao poderia me surpreender mais do que eu ja estava surpreendida... entao ele fez uma coisa que eu nem imaginava que ele pudesse fazer. Ele enfiou a mao numa mochilinha velha que ele carregava e tirou um disquete (naquela epoca era o maximo da tecnologia). Olhei assustada e perguntei o que era e ele me disse que sempre usava os computadores da facul e que a planilha poderia ser mudada facilmente pois havia uma copia no disquete.

Visualizem o procedimento do cara: ele fazia a estatistica na prancheta, pois naquela epoca nem sonhava ter um notebook e depois, com o disquete que ele carregava, ele alterava os dados dela nos computadores da faculdade.

Ele confiou o disquete a mim (depois que eu dei o meu cartao pra ele, obviamente. Mas cartao de estagiaria pois na epoca eu ainda nao podia trabalhar como economista, eu ainda estva fazendo a faculdade.). Cheguei na minha casa e corri pra abrir o disquete: me surpreendi pois havia planilha com formulas no excel, ou seja, os dados inseridos eram instantaneamente calculados e relatorio de aproveitamente e avanco no word... Realmente o rapaz era bom de negocio. 

Concluindo, na semana seguinte eu levei o disquete pra ele com as arrumacoes que eu tinha sugerido. Ele nunca mais me cobrou pra estacionar e ainda guardava a melhor vaga (embaixo de uma arvore) pra mim. Sempre que falo de empreendedorismo eu lembro desse rapaz... ha anos nao o vejo mais, mas com certeza todos os dias ele acorda e pensa: "Hoje eu estou mais rico que ontem!".

2 comentários:

  1. Muito bom Bia!! Ele é meu ídolo!!rs

    Pedro

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  2. Acho que esses flanelinhas ganham melhor do que eu se quer saber! Acho que vou começar a vigiar carros também! Aproveitaram que abriram um novo bar perto aí da sua casa Bia... Vou flanelar também! kkkkkk

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